Os trios elétricos de hoje (com ou sem corda de isolamento)
convivem lado a lado com o carnaval acústico das orquestras de
frevo, com os cavaquinhos dos pagodes, com os bandolins das
orquestras que rememoram antigos carnavais e com o mela-mela
advindo dos tempos Coloniais. Ou seja: os trios convivem com uma
mescla de carnavais
tudo-ao-mesmo-tempo-agora.
Há carnaval pra
todos. O tempo todo. Em todo lugar.
Há carnaval – e aí está uma inovação – no São João de
Campina Grande (PB) e no de Caruaru (PE). Aliás, estas duas cidades
estão saindo na frente e dando o pontapé inicial nesta partida que
ainda vai render muita música & muita semioticidade.
Na micarande, grupos de forró "de plástico" (ou forró
eletrônico) e grupos de forró "pé de serra" sobem aos palcos e nos
trios para celebrarem uma festa dentro de outra festa. É o
rock, o
rap,
o repente, o
funk, o pagode, o axé no São João! Além do forró. É a
alegria do povo curtindo e, bem provavelmente, gerando uma nova
linguagem para a música popular.
Diante da irreverência e da anarquia das massas, os puristas
ficam desorientados. Declaram que não entendem mais nada.
Apegam-se a teorias e teóricos dos dois últimos séculos. Como se o
mundo houvesse estancado. Em tempos internáuticos, dois séculos
abarcam dimensões jurássicas.
O carnaval acaba de migrar para as festas de São João. Qual o
problema?
Campina Grande e Caruaru agem sem preconceitos e sem
escrúpulos estéticos. Na onda do valem todos os sons e todas as
letras, a cidade está quebrando o cordão de isolamento da velha
tradição e criando uma nova tradição: a de aceitar as ousadias que a
massa planta, colhe e até acolhe. É isto mesmo: a massa planta modos
e modas, mas também acata modas e modos plantados pela mídia,
pela publicidade, por interesses econômicos. A massa tem um poder