apreciador de carros, valente etc. Na adaptação do filme em livro, ele é descrito como “um cara
forte e poderoso, de pelo menos um metro e oitenta de altura, pelo que Norman podia calcular.
A única coisa que ele tinha em comum com [o irmão menor] Neil era o cabelo ruivo. Mas em
Mitch ficava bom”. (KIMMEL, 2012, p. 30). O adolescente Mitch é o contraponto
aparentemente “normal” em relação aos esquisitos Norman e Neil – gordinho e, também, vítima
de bullying na escola. Em um diálogo do filme reproduzido no livro, com uma pequena
variação, o pai de Norman faz alusão ao tipo representado por Mitch: “por que você não pode
ser como as outras crianças da sua idade e armar uma tenda no quintal ou ter um saudável
interesse em carpintaria?” (KIMMEL, 2012, p. 30), ou seja, atividades que Mitch faria.17 Por
isso, o pequeno ponto de virada do personagem mais próximo a um padrão social esperado a
um rapaz surpreende ao desvendá-lo, para Courtney e à audiência, como alguém
espontaneamente gay, apesar das aparências dentro da norma, evidenciando que não há padrão
e que a expressão de gênero não é estanque.
O nome Norman remete ao protagonista de outro filme, o também esquisito Norman
Bates, do clássico suspense dirigido por Alfred Hitchcock, Psicose18, de 1960, baseado no livro
homônimo de Robert Bloch, publicado em 1959. De comportamento desviante, Norman,
homem de 40 anos, administra o motel da família à beira de uma estrada secundária norte-
americana. Ele age como a própria mãe, já morta, com quem supõe conversar e conviver, devido
à sua dupla personalidade – algo muito próximo ao comportamento de Norman com a avó, que,
no caso, é um fantasma de verdade e não resultado de uma patologia. A diferença é que,
enquanto em ParaNorman a avó é uma aparição que equilibra a tensão entre Norman e o pai, a
mãe do Norman de Psicose é que lhe serve de superego, com proibições, limitações, autoridade
e desequilíbrio internos. Também, assim como o Norman da animação, o Norman de Psicose
está mais próximo da morte ao praticar como hobby a taxidermia de pássaros (e da própria mãe,
cujo corpo, desenterrado por ele, perece no porão da casa gótica, ao lado do motel da família).
Nas primeiras sentenças do livro, que, ao contrário do filme, mantém o foco em Norman desde
o início, este é descrito como medroso ao levar um susto pelo barulho da chuva, e alguém que
prefere a organização da casa e a companhia de um bom livro ao trabalho, mote para a primeira
aparição da mãe na narrativa a cobrar-lhe uma atitude, que vá atender no motel. A relação de
Norman com a mãe imaginária – que, nas crises de dupla personalidade, chama-o de “garoto”19